Seus braços eram como poderoso campo
de força onde nenhum inimigo ousaria penetrar.
Sua voz tinha o poder de um trovão,
e quando ele falava, parecia que eu estava diante de um superpoder, um som
capaz de ser ouvido em todos os cantos do universo.
Quando ele me pegava no colo, eu
subia à mais alta torre, inexpugnável, ali eu podia ver o mundo.
Peguei carrinhos para ir treinando,
pois ele era motorista, queria ser como ele.
Houve um tempo em que eu imaginava
que ele dirigia as naves espaciais que povoavam meus sonhos de criança.
Até mesmo quando ele chegava tarde
em casa, eu fingia dormir, e mesmo que ele não viesse no meu quarto, os passos
dele eram a trombeta dos soldados avisando que toda família estava protegida.
Mas algo estranho começou a
acontecer, e a presença do meu herói rareava.
Certamente, ele devia estar em
alguma missão especial, pois não eu o via quando acordava e também não tinha
forças para esperar o toque da trombeta, o sono sempre me vencia.
E quando, durante o dia, eu ligava
para o trabalho dele, sempre ouvia a mesma frase: “Papai não tem tempo.”
E a primeira apresentação da escola
chegou, mas ele não estava ali.
Do palco procurei por ele, utilizei
minha supervisão de raio X, mas que nada, não consegui localizar meu herói.
E ao perguntar à minha mãe, ela
sempre dizia:
“Enquanto papai não vem...”
E foram muitas as vezes que ele não
veio.
Fui me acostumando, mesmo quando via
outros pais fazendo de tudo para estarem junto a seus filhos.
E eu sempre ouvia:
“Enquanto o papai não vem...”
Fui crescendo e entendendo que não
existem heróis, era tudo coisa da minha cabeça.
Mas eu tinha necessidade dos
superpoderes que só meu pai podia me mostrar.
Descobri que ele e todos os pais são
apenas aprendizes e que erram também.
Agora, com quinze anos, percebo que
existem outros vilões a serem derrotados e que nem todos os pais heróis têm
poderes suficientes para isso.
Enquanto papai não vem, eu vou
descobrindo o mundo sozinho.
Papai não consegue derrotar alguns
inimigos que eu vou conhecer quando for adulto.
Mamãe faz de tudo, mas nem sempre
ela consegue me proteger das armadilhas do mundo.
Depois de algum tempo, papai não veio
mais para casa.
Nos vemos de vez em quando.
Não existem mais torres, nem
superpoderes, mas eu gosto muito de estar com ele.
Um dia os pais vão descobrir que
seus filhos sempre esperam pela presença deles.
Meu olhar com a supervisão
identificadora e localizadora do meu pai está guardado, agora tudo mora nas
minhas lembranças e no meu coração.
Adeilson
Salles
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